quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Panorama geral de quatro dias.
José

Não vou agora detalhar as oficinas, mas dar apenas um apanhado dos acontecimentos dos últimos quatro dias, incluindo o onze de setembro no meio.

Neste tempo, foram realizadas 5 oficinas direcionadas para a Mostra Três Fronteiras. Houve turmas desde a 5ª série até o 2º do Ensino Médio. Ou seja, as experiências foram bem diversas. Basicamente o que tenho feito neste espaço, quando se trata de uma oficina antes da visita, é convidá-los a observar a paisagem, delimitando um espaço, um tempo e instituindo o silêncio. Antes de começar a observação, eles se dividem em grupos e recebem papéis sociais. Os papéis variam entre estes: POLICIAIS, CONTRABANDISTAS, INDÍGENAS NATIVOS, EMPRESÁRIOS, PUBLICITÁRIOS, TURISTAS, ARTISTAS, POLÍTICOS.

A principal dificuldade nesta atividade é o tamanho da paisagem, já que vencer a vista do Guaíba e os eventuais barcos, navios e rebocadores que passam por aí é uma tarefa ingrata e impossível. Mesmo delimitando o espaço dos trilhos, inevitavelmente as turmas se aglomeram no gradil e ficam contemplando a água.

Depois da observação, sempre lembrando dos seus papéis sociais, os grupos discutem e estabelecem novas regras para observar a paisagem. Quais as regras conviriam para cada um daqueles grupos sociais?

Os resultados têm sido o padrão até agora, sem muitos problemas, mas também sem grandes avanços.

Convido a nossa colega Jacqueline, que acaba de quebrar o tabu do 3 Fronteiras a expor aqui os resultados da oficina que ela realizou hoje, dia 13, pois estava lendo e achando bem interessantes. Como tu desenvolveu a discussão? De que maneira eles se aprofundaram nos seus papéis?

Também tive experiências pós-roteiro no 3 Fronteiras, que produziram bons resultados. Em uma delas, o grupo foi dividido em quatro e cada qual recebeu os seguintes papéis: POLÍTICOS, ARTISTAS, POLICIAIS, CONTRABANDISTAS. Os POLÍTICOS tinham a tarefa de criar um país imaginário. Os ARTISTAS, uma obra em comum. Os CONTRABANDISTAS estariam contrabandeando a obra que estava sendo criada pelos ARTISTAS, mas o contrabando foi interditado pelos POLICIAIS.

Como a atividade ilícita foi descoberta, os CONTRABANDISTAS tinham a tarefa de discutir o que fazer, o mesmo valendo para os POLICIAIS. Estes decidiriam se participaram do contrabando ou se eram os interditores. O resultado foi muito bom, uma espécie de RPG, em que cada grupo dizia que ação aplicaria, em debate com a ação do outro. Acabou que obra terminou caindo sobre o país imaginário (o não-lugar?), mas foi confiscado pelos policiais, que prenderam os contrabandistas. Uma mistura de artes visuais com teatro, sendo este último tão espontâneo da parte dos alunos, que chegou a me surpreender.
Maravilha! Vai ver foi o eclipse do dia 11 de Setembro que rendeu tão bons frutos, dia em foram realizadas três oficinas ali no 3 Fronteiras.

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No dia 10, recebi uma turma só de meninas. Explica-se: quando eles foram solicitados para se separarem, os sexos se repeliram automaticamente. Como a proposta era, divididas em grupos, criar uma obra para resolver um problema, aproveitou-se esse problema de gênero e o resultado foi ótimo. As meninas se engajaram bem na proposta, dando títulos aos trabalhos, propondo leituras (fizemos uma mediação dos trabalhos).

No dia 12, a experiência com uma 4ª série foi linda. Todos muito atentos, disponíveis, fizeram uma roda, sentados no chão e, após a imaginação de um espaço (o rio Guaíba) e a escolha de personagens que viveriam nesse espaço, contaram uma história. Essa história era pontuada por um carretel de linha. Quem estava de posse do dito cujo, dizia a sua parte da narrativa e, ao mencionar o nome de um dos personagens, jogava o carretel para este, segurando o pedaço da linha correspondente.

Restou uma figura tramada no chão. Então, com giz de cera, eles desenharam no chão, respeitando os limites estabelecidos pelos barbantes. E a Sala Multiuso tá pintada agora. Maassa!!

E hoje, dia 13, a experiência foi muito boa também. No susto, peguei uma parte de uma turma de surdos. Ia propor uma atividade para a qual produzi cartazes – tentando melhorá-los, seguindo os conselhos da nossa colega do Zona Franca, Catherine -, mas como fiquei sabendo que eles se encantaram muito com o núcleo do Waltercio Caldas, mudei a proposta e precisei contar com os professores para a tradução.
A atividade foi a seguinte: divididos em três grupos, eles precisariam se imaginar num deserto, cada grupo isolado dos outros dois. Para se comunicar com os outros, eles poderiam usar qualquer objeto presente na sala – cadeiras, colchonetes, papéis, revistas, brinquedos -, mas teriam que usar o mínimo possível de coisas, para ocupar o máximo de espaço.

Os resultados

Um grupo montou uma guerra com os brinquedos, com muitos bebês mortos. A guerra era por causa da água e a ocupação do espaço se deu em cima de colchonetes, com a distribuição dos corpos em cima deles.
Outro grupo, de meninas, colou figuras numa folha, que elas relataram como sendo de mulheres sexy ou artistas famosos. Essa folha foi colocada no centro de vários colchonetes. A idéia era criar a vontade de ver as figuras, mas há um impedimento em função dos colchonetes, que delimitam o espaço.


















Outro não produziu nada visualmente, mas na hora de apresentar, simulou uma situação em que três indivíduos do grupo estariam conversando entre si e uma delas precisaria chamá-los, mas estaria impedida pelas cadeiras e como eles são surdos, não haveria como ouvi-la. A solução achada foi tirar o tênis e atirar neles.

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A outra atividade de hoje foi com uma primeira série. Em parceria com a Luísa, evocamos a lembrança das crianças para os trabalhos, em especial o da Chiho Aoshima, com as tevês de plasma e o desenho japonês. Elas, então, desenharam, com grafite, cidades, casas, prédios. Em seguida, pintaram, com guache, a natureza tomando conta da cidade.
Julgo que, embora a turma tenha sido ótima de trabalhar e as crianças sejam muito fofas, os resultados ficaram bastante na reprodução e, ao evocar a presença da natureza, também ficaram nas borboletas e árvores. Após instigá-los, sobre isso, alguns produziram cachorros e girafas. Tenho certeza que mais um tempinho aí e eles iriam adiante.

Desta oficina não tenho nenhum registro, pois eles levaram os desenhos, mas na medida do possível vou postar as fotos que foram tiradas de todos os trabalhos relatados aqui.

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